terça-feira, 11 de outubro de 2011

AUTOESTIMA REFLETE NA ESTABILIDADE DAS RELAÇÕES AMOROSAS.

Entrevista Concedida ao Jornal Diário Serrano que deu origem a matéria do dia 16 de setembro de 2011, "Autoestima reflete na estabilidade das relações amorosas"
Psicóloga Joselaine Garcia
CRP07/18433

 Repórter: Vemos muitos casais de namorados ou até mesmo casados que vivem em um vai e vem, "namora-separa-volta", esse tipo de relação é característica dos dias atuais?

Psicóloga Joselaine:  Na atualidade a precariedade, a fluidez dos vínculos são fatores que colaboram para esse tipo de comportamento. Pais sem “tempo” para os filhos, a falta de limites, a compensação do amor por objetos, enfim, a dinâmica familiar contribui muito para essa situação, pois é no seio da família que a pessoa vai definir seus padrões básicos de funcionamento, isso significa a sua forma específica e repetitiva de ser e de reagir em todas as situações; os mecanismos que usará para viver e sobreviver; suas escolhas ao compreender e se relacionar com as pessoas e situações.

Este padrão se constrói no entrelaçamento das relações familiares, das normas explícitas e das regras que são passadas de forma sutil, nos olhares, nos toques, nas palavras e atos. Paralelo ao padrão de funcionamento que vai construindo o indivíduo vai estruturando a sua auto imagem.

Geralmente uma pessoa que cresceu em uma família disfuncional na qual suas necessidades emocionais não foram atendidas, ou seja, indivíduos que não se sentiram apoiados e valorizados que se relacionaram em ambientes conturbados verão sua realidade como fria, vazia e solitária, podendo vir a apresentar dificuldades como: dependência afetiva, imaturidade, autoestima prejudicada, insegurança, enfim, vários são os problemas que podem ocorrer em famílias disfuncionais.

Repórter: Que fatores contribuem para esse "circulo vicioso"?


Psicóloga Joselaine: O relacionamento poderá ser intensamente influenciado pelo grau de maturidade psicológica de cada um e pelo grau de consciência e autoconhecimento obtido sobre sua própria dinâmica psíquica.

Cada pessoa reagirá a essa experiência com o seu padrão relacional, ou seja, é, seu modo próprio de ser, constituído a partir de sua história de vida que originou um sistema interno de valores e crenças sobre relacionamento afetivo. A atuação do inconsciente está presente o tempo todo ao longo de nossa vida, interferindo em cada processo psíquico, em menor ou maior grau.

Normalmente, Pessoas carentes afetivamente atraem relacionamentos confusos e insatisfatórios por apresentarem-se tão disponíveis em troca de amor, carinho e atenção. Correm o risco de serem rejeitados, não valorizados e menosprezados pelo parceiro.

Os relacionamentos preenchem este vazio sentido por elas. No momento em que se separa se vê no vazio de sua identidade, então, voltam a unir-se, e novamente volta à frustração, pois o outro nunca será capaz de suprir essa falta.

Dependência Afetiva é um distúrbio de comportamento que afeta um número muito grande de homens e mulheres. Em geral, pessoas que amam ilimitadamente, que vivem em uma linha tênue que alterna entre carência, amor e sofrimento, na grande maioria de total baixa autoestima, quase todas adquiriram este distúrbio em alguma experiência onde suas necessidades emocionais não foram atendidas, seja na infância ou mesmo em relacionamentos passados.

A precariedade dos vínculos afetivos seja na infância ou nos relacionamentos anteriores poderá levar o sujeito a ter dificuldades nas relações que mantiver.


Repórter: A falta de amor próprio, de conhecimento de si mesmo seriam fatores a contribuir para esses casos?

Psicóloga Joselaine: A chave da empatia pelo outro é, antes de tudo, a competência de empatia por si. A pessoa que ama a si mesma é mais livre para amar o outro. Não precisa tanto dele, tem a si mesma, na falta dele. Não escolhe o parceiro apenas para que ele preencha suas lacunas, não depende dele, quer estar com ele sem exigências infantis, apenas se satisfazendo em receber o outro como é, ao mesmo tempo em que se expressa como é. E, nos momentos difíceis, dá o melhor de si pela relação, dentro das suas possibilidades.

Se não me amo, estarei sempre procurando alguém que me complete me faça feliz, realize meus sonhos.

A busca pelo outro é, de alguma forma, uma busca por si mesmo. Se não tenho um bom relacionamento comigo, como posso ter com os outros?

Repórter : A busca da felicidade, sem ter consciência do que é realmente ser feliz, tendo uma visão distorcida de felicidade, acaba fazendo com que as pessoas vivam esses relacionamentos e não sabendo como lidar com o outro se submetam a tais casos?

Psicóloga Joselaine: Quando se tem uma visão distorcida da felicidade, se tem uma visão distorcida da vida e, por conseguinte das relações intrapessoais e interpessoais.

Sujeitos que vivenciam essa visão deturpada passam a vida inteira ou uma boa parte dela construindo relações insignificantes e superficiais abalizadas na insegurança, no medo de perder, no receio de estar sempre sendo boicotadas e sempre tentando se auto afirmar.

Normalmente pessoas carentes têm uma visão distorcida do amor. “Algumas teorias da psicologia ainda acreditam que pessoas carentes não conseguem, mesmo que inconscientemente, diferenciar amor, dor e sofrimento”.

Repórter : O que se pode concluir de um casal que não consegue conviver por muito tempo e mesmo assim insiste na relação?

Psicóloga Joselaine: A decisão entre investir e desistir da relação é muito complexa, é uma grande rede de fatores que envolvem a tal decisão uma vez que abarca diversos fatores:  .

Muitas vezes os bloqueios para não conseguir sair da relação podem ser fictícios. Outros são reais, como o impacto social na vida dos filhos.
Não rara às vezes, a pessoa até tem consciência de que o relacionamento não é saudável, mas não consegue sair desta situação, isso porque as motivações que o levaram a tal posição são inconscientes.

Repórter: Há como recomeçar do zero, mesmo depois de tantas brigas e desavenças? mesmo quando tudo parece totalmente perdido?

Psicóloga Joselaine: É possível interromper esse círculo vicioso, se houver um investimento consciente de energia psíquica no sentido de se autoconhecer para compreender qual a dinâmica presente no relacionamento.

É necessário aceitar que a barreira para a nossa felicidade habita, ainda que em parte, dentro de nós mesmos. É preciso desfazer-se do sentimento de dependência infantil, para onde o indivíduo volta-se sempre que se sente só e desamparado na vida.

É possível ser feliz, tanto sozinho quanto numa relação. Para isso, precisamos estar livres de amarras emocionais, das armadilhas dos ganhos secundários, das barganhas e do excessivo apego a crenças.

Uma questão afetiva ainda não resolvida dentro de nós precisa ser elaborada por nós, para que possamos nos sentir felizes e minimamente preenchidos de afeto.

Um dos maiores ganhos que obtemos ao olhar para nossas próprias dores, com coragem de reconhecê-las e trabalhar com elas internamente, é o desenvolvimento de cada vez mais recursos internos para seguir em frente.

Repórter : Os exemplos que se tem no lar, a forma como se deu a criação desses indivíduos contribui de que forma nessa relação?

Psicóloga Joselaine: Muitas vezes a qualidade de vida psicológica de uma pessoa depende dos tipos de vínculos que ela estabelece no início de sua vida com seus modelos (mãe, pai e/ou cuidadores) os quais serão mantidos durante seu amadurecimento. Nossas estruturas cognitivas serão organizadas em função dos mesmos.

Estes vínculos são importantes para a formação da estrutura da personalidade, na escolha de relacionamentos amorosos, interpessoais, no ambiente de trabalho, na forma de administrar o stress diário...




Um comentário:

  1. Estou me redescobrindo nesta leitura. Vi minha infância se passar diante de mim e como fui afetada totalmente pelo formato de relação familiar que vivi.

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